Este livro é surpreendente:
uma Lygia quase irreconhecível.
Aborda temas candentes da atualidade sem menosprezar suas personagens, as quais vivem seus problemas na medida de sua compreensão;
não são “crescidas” à força, ou, então diminuídas para ficarem à altura das situações de que participam. É nesse contexto que Sapato de salto trata da história de Sabrina, uma menina que, abandonada pela mãe ao nascer,
é criada num orfanato, e, contratada para trabalhar
como babá na casa dos Gonçalves. Reencontra aí
a dramaticidade da vida, através do assédio sexual
do chefe da família. Os tenros onze anos da personagem
não lhe permitem perceber toda a extensão e gravidade
da situação, mas ela sofre todas as conseqüências.
Lygia não esgota nessa personagem a maldade possível
entre os humanos: ela vai além, ao mostrar o conflito
vivido pela personagem de Andrea Doria e os de sua mãe, em torno da difícil opção sexual do adolescente —
ser ou não ser gay, numa cidade de interior.
Nessa história, não há a possibilidade de madrinhas,
de bolsas para guardar desejos, de fantasias.
Tudo é muito real e concreto, está à flor da pele.
As metáforas não atenuam as agruras da vida,
essa é apresentada com traços fortes, duros e cruéis,
distantes do modo como eram trabalhadas questões humanas de peso em livros como A casa da madrinha, A bolsa amarela, Corda bamba, para citarmos
alguns dos trabalhos mais conhecidos dessa autora
Claudete Segalin de AndradeProfessora do Colégio de Aplicação da UFSC
Doutora em Literatura pela PUCRS
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